Capa vazia

03 outubro 2008

Ecologista

Hoje conheci, buscando, o Severino ₢. Mais um José da Silva nas ruas. Dei-lhe latas e algumas moedas. Foi muito pouco comparando ao que tomei.
Pela atenção descobri a trombose nas pernas daquele catador soropositivo que vive nas ruas e sonha em conseguir nova internação no Emílio Ribas:

- TV, banho quente e cama que parece até de um apartamento.

Nossa conversa tem de ser breve, pois ele teme não conseguir vender ainda nessa noite o produto de suas “catanças”. Diz não ser muito fácil dormir na marquise, com a perna direita suspensa para que as veias não estourem, e ainda proteger o grande saco de malucos que já tem coragem de roubá-lo para, na maior parte das vezes, queimar na lata o produto de seu árduo trabalho, a lata. O desespero não tem medida.
Ele tranquilamente relembra ter de ir, ou o depósito fecha. Fala com brevidade sobre a possibilidade de conseguir passagem para retornar a Serra Talhada*, Pernambuco. Conta da oferta, e não sei se é como um alento ou mais uma desilusão.
Tem olhos bons e confessa nunca ter roubado. Pede quando não agüenta mais tomar tantos remédios sem comer.E ainda sonha, com o hospital que lhe poderá conceder o Doutor benevolente.

* Em 1700, a área onde hoje se situa a cidade de Serra Talhada era uma fazenda de criação, pertencente ao português Agostinho Nunes de Magalhães. A propriedade era chamada de Serra Talhada em virtude de uma montanha próxima à sede, a qual é uma ramificação do sistema de montanhas da Borborema, de formação granítica, tendo uma das suas vertentes como que cortada à prumo. (fonte: IBGE)